terça-feira, 23 de março de 2010

Pesquisa

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Lá está o meu Tesouro

Ele lhes disse: "Por isso, todo mestre da lei instruído quanto ao Reino dos céus é como o dono de uma casa que tira do seu tesouro coisas novas e coisas velhas" ( Mateus 13.52)
Segundo José Saramago, as palavras são como pedras que nos levam a outra margem do rio, e parece que Jesus focou na figura do “mestre da lei instruído quanto ao Reino de Deus”, ele é a ponte, é ele que coloca as pedras que serão pisadas até a outra margem. E a margem neste contexto é o Reino de Deus.
Infelizmente a leitura bíblica no ocidente se tornou pragmática, e ao invés de uma leitura que extrai sabedoria para a vida, nossa leitura é influenciada pelos manuais de auto-ajuda e liderança corporativa. Uma das características desse tipo de literatura é o seu imediatismo, as regras propostas tem que funcionar em alguns meses, caso contrario é abandonada. No entanto, a proposta de Jesus é o REINO de DEUS um projeto de longo prazo, e que tem sido enriquecido geração após geração. Sem a sabedoria daqueles que nos antecederam, sejam nossos pais ou mentores espirituais podemos gastar parte da nossa vida “testando caminhos”, o que pode em algum momento ser interessante, por outro lado, podemos nos tornar como o filho pródigo que desperdiçou sua vida.
O cristianismo durante todos estes séculos tem criado uma base “tradicional” onde as novas gerações são chamadas a trabalhar as novas realidades que se impõe, utilizando o material ou ambiente “antigo” ou “velho”, juntamente com o novo. A palavra “tira do” dá a idéia de algo pronto que precisa apenas ser pego, mas a palavra grega a que o texto se refere, trás a idéia “brotar”, “extrair”, é algo que precisa ser trabalhado, recriado, a partir do tesouro. Mas o que é tesouro?
A palavra tesouro usada por Jesus tem uma conotação figurativa. Tesouro na literatura grega não está associado a piratas e baús com jóias, mas aquilo que consideramos de elevado valor (Mateus 6:21 Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração) literalmente ou figurada . Por exemplo uma grande amizade é tratada como um tesouro dentro do peito, as ferramentas de um profissional podem ser o seu tesouro. Nossa história de vida pode se tornar um tesouro. Jesus ensina a “ajuntar tesouros no céu”. Estamos entrando em um tempo de decadência institucional, grandes corporações econômicas, financeiras e religiosas estão perdendo sua relevância e testemunho. Temos que aprender a viver sem o testemunho institucional e passarmos para o testemunho pessoal. Jesus sempre se dirigiu pessoalmente, e as histórias bíblicas são testemunhos pessoais. Por essa razão vamos substituir a palavra tesouro por legado, que parece sintetizar o testemunho pessoal, que precisa ser transmitido para as próximas gerações.
O teólogo Irlandês James Houston aos 83 foi indagado por seus filhos sobre como viver uma vida frutífera. Sua resposta aos filhos, rendeu o livro, “ Meu Legado Espiritual”, de maneira que esse Legado não se restringisse apenas a seus filhos de fato, mais aos diversos filhos espirituais espalhados pelo mundo. James Houston entende que os cristãos que deveriam estar lúcidos, também estão confusos quanto a como viver a vida cristã de maneira frutífera e construir um legado para sua família e para o testemunho de Deus neste mundo.

Farei uso de algumas propostas e lições transmitidas por ele em seu livro:
1) Toda geração terá que lidar com as tensões do presente e do passado. A bíblia tem pelo menos 5 mil anos, e sempre será o livro dos cristãos. A morte e ressurreição de Jesus se deram no passado. Nossa fé é uma fé histórica, ela tem sido transferida de geração após geração. Fico preocupado quando ouço criticas a reforma protestante do século XVI, já que 5 séculos depois é fácil apontar os caminhos que não deram certo, no entanto, o grande legado de nossos irmãos do passado é que apesar de tudo, o evangelho chegou até nós e deveríamos ser gratos por isso. Sempre haverá uma tensão entre o novo e o velho, entre o atual e o antigo. Dessa forma a interpretação dos textos bíblicos é fundamental na construção do Reino, é a partir dele que as ações deste Reino são aferidas e validadas. Se os óculos da interpretação permanecessem os mesmos não há ponte entre o texto (antigo) e o Reino de Deus (novo). Segundo Leonardo Boff qualquer mudança séria, precisa passar por uma revisão da dogmática (verdades certas, indubitáveis e não sujeitas a qualquer tipo de revisão ou crítica) cristã. Jesus ao falar do Reino de Deus precisou questionar a dogmática Judaica. Uma geração relevante tem que ser um profundo leitor da Bíblia.

2) As comunidades cristãs não são e nem devem ser homogêneas, Paulo em (Efésios 3:10), trata essa questão falando que somos expressão da ( multiforme- polupoikilos) polu : significa multiplicar, muitas vezes e poikilos : colorido, varias cores, algo engenhosamente construído (sentido artístico) de difícil discernimento. A bíblia King James traduz como “manifold”, que é uma palavra muito usada no campo da mecânica e significa “distribuidor”, ou seja, por uma entrada um produto é distribuído por varias saídas. Os diversos ministérios no corpo de cristo são complementares e não beligerantes. Por não sabermos lidar com as heterogeneidades da Igreja, usamos palavras que dão sempre o espírito de competição “geração que precisa superar”,“ ir alem”, “sobrepujar” e“ guerrear”. Esse não parece ser o espírito do Reino de Deus. Uma geração relevante precisa entender que o Espírito Santo está em todos e age por meio de todos (Efésios 4.6).

3) Investir mais no tempo, que é o bem mais precioso e não renovável da vida, do que em espaços e coisas. Temos gasto muito tempo construindo espaços e adquirindo bens, ao invés de relacionamentos frutíferos. A fé precisa ser transmitida de maneira pessoal, eventos e encontros podem nos transmitir generalizações e muito proselitismo dando-nos uma falsa impressão de crescimento. Temos que resgatar a Bíblia como a fonte que responde a questão de se “remir (resgatar) o tempo” . As pessoas não estão interessadas nas diferenças entre a bíblia católica e protestante, sobre os atributos invisíveis de Deus, mas em como viver - “Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna - João 5.39. Não podemos falar de vida plena sem o resgate do tempo, não em uma perspectiva Kronos (tempo em que vou viver) mas em um tempo kairós (O que vou fazer, e como vou viver com o tempo que recebi). Uma geração relevante precisa aprender a santificar momentos em qualquer espaço.


4) Não estamos em uma disputa histórica de gerações, cada qual tem que lidar para ser relevante no momento histórico em que está e enfrentar os desafios que estão postos. A geração de Josué tinha em desafio, a de Samuel outro, a de Davi outro e assim sucessivamente. A igreja de Atos lidava com problemas diferentes dos nossos, mas dentro daquelas circunstancias históricas ela foi relevante, e por isso é tão admirada. Historicamente diversas comunidades foram tão importantes quanto.


Israel tinha um ano chamado de Jubileu e acontecia a cada 50 anos, nessa ocasião toda as dividas eram perdoadas, o que dava a oportunidade de um novo começo . O recado que este texto nos diz é que pela graça de Deus cada geração pode começar de novo, sem dividas passadas. O sangue de Jesus é o pagamento das dividas e podemos recomeçar geração após geração. Pessoalmente, vivi em uma geração onde a transmissão da fé se deu de maneira institucional, mas reconheço que esse modelo vive seus últimos dias. Quando a fé é transmitida de maneira pessoal, ela exige de nós maior responsabilidade e experiência pessoal com Deus.
Uma geração relevante vai perceber que a cultura brasileira precisa ser redimida por meio do testemunho pessoal e até esse momento essa cultura é rebelde e injusta quando tomamos o Reino de Deus como parâmetro.

" Mantenha viva a chama do dom de Deus que está em você ".

O Amor Edifica

Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. (1 Coríntios 8:1 )

Existe um programa exibido na Record chamado “ Troca de Família” assisti alguns episódios mas ultimamente não tenho assistido com freqüência. Aos sábados eles têm reapresentados alguns episódios e num destes sábados assisti a troca do pescador Jeová, com Milton um micro empresário de SP. A família de SP passava por uma profunda crise, havia o risco de separação declarado pela esposa, os filhos irados contra o Pai. Em sua chegada o Pescador Jeová conseguiu contagiar toda a família e amigos próximos, e dar um novo alento aquele lar. O Milton na casa de Jeová também aprendia, e ao final dos sete dias de troca afirmou que precisava mudar algumas coisas em casa e pedir perdão a sua família.
Ao final do programa todos de alguma maneira foram “edificados”.
Qual a diferença entre edificar e construir? Na língua portuguesa existe uma relação entre as duas palavras, no entanto, para se dizer que edificou algo, este edifício ou casa foi feito desde o alicerce. Eu poderia, por exemplo, comprar uma casa e depois adicionar um quarto sobre a construção existente, neste caso eu não edifiquei, mas adicionei um cômodo ao alicerce existente.
Nesse caso a ênfase do texto é que o amor é capaz de edificar.
No entanto, quando falamos do amor, estamos lidando com uma palavra banalizada, que em nossa cultura foi confundida com “romantismo”, paixão desenfreada etc. Nossos irmão que escreveram os textos bíblicos também experimentavam a banalização em muitos aspectos, mas ao invés de usarem outra palavra, usaram justamente as de uso corriqueiro.
A palavra amor não deve ser estudada a partir apenas de sua semântica e correlações, mas a partir de um mistério: “Deus é amor”. Ora, é de se duvidar que o mundo conheça essa dimensão do amor, o mundo conhece a dimensão “ sensorial” (carinho) e “psicossensorial” (sentimentos) do amor, mas não sua dimensão divina, pois essa dimensão é invisível, Deus é invisível, sendo assim a operação do amor é invisível, secreta. Por essa razão gabar-se de que se ama alguém é um sinal que o amor não está presente, ele é secreto, invisível e calmo.
Daí, dizermos que o amor edifica, ele está oculto, assim como o alicerce de um grande prédio não aparece, mas sabemos que está lá sustentando tudo. “Dietrich Bonhoeffer no casamento de sua sobrinha lhe disse: O amor sustentou até o casamento, agora é o casamento que sustenta o amor”, não é que não haveria amor, mas como alicerce o amor ficaria oculto, o casamento é o prédio onde tudo acontece, e quanto maior a construção mais profundo deve ser o alicerce.
Todos ansiamos por saber a “fórmula do amor” o que fazer, para demonstrar amor? Não é possível “ fazer” alguma coisa especifica, tudo pode ser edificante se estiver alicerçado no amor. O amor é uma relação sobre-humana, e nesse sentido somente DEUS pode implantar amor em cada um de nós, e a partir desta constatação só podemos crer que Deus tem colocado seu amor no outro e em mim. Toda ação deve pressupor o amor no e do outro, se não for assim, não há relação humana ou trabalho que perdure caso aja desconfiança. Nenhum de nós entra em um prédio e pergunta: Este prédio tem alicerces? Não! Cremos que os alicerces estão lá. Nossas relações azedam, porque pressupomos que o outro me odeia, não cremos que DEUS esteja edificando aquela vida em amor. Daí porque Paulo em I Coríntios 13 vai dizer: “O amor é paciente, o amor é bondoso. Não inveja, não se vangloria não se orgulha. Não maltrata, não procura seus interesses, não se ira facilmente, não guarda rancor. O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.
O amor é paciente porque espera e crê que esteja no fundamento do outro, inveja e rancor negam o amor presente nos fundamentos, o amor suporta a ira, a inveja, o rancor do outro, pois o amor é mártir,tudo sofre,tudo crê, tudo espera.Uma pessoa saudável pode de uma certa forma se alimentar de algo que não seja bom para a saúde, mas a sua saúde perfeita vai metabolizar aquele algo ruim. Mas o doente, até o que é bom lhe faz mal , ele não tolera, rancoriza, nada crê e de certa forma também é um mártir: do diabo!

Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor.

Cisco no Olho....................dos outros é refresco!

"Por que você repara no cisco que está no olho do seu irmão e não se dá conta da viga que está em seu próprio olho? Como você pode dizer ao seu irmão: 'Irmão, deixe-me tirar o cisco do seu olho', se você mesmo não consegue ver a viga que está em seu próprio olho? Hipócrita, tire primeiro a viga do seu olho, e então você verá claramente para tirar o cisco do olho do seu irmão”. Lucas 6.41-42

Recentemente passei pela experiência de ter um cisco nos olhos. É horrível, tentei tira-lo sozinho e nada! Pedi ajuda ! Nada! ninguém conseguia ver o tal cisco, mas ele incomodava, e muito!

Precisei viajar e fui a Curitiba, cheguei ao hotel a noite e estava assistindo o jornal, quando em meio as tragédias diárias, uma história em particular chamou a atenção. Uma criança de 4 anos estava abandonada em casa e era vitima de desnutrição.

Link: http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL355388-5598,00-MENINA+DE+ANOS+E+KG+E+ENCONTRADA+EM+SITUACAO+DE+ABANDONO.html

A criança tinha o peso de um bebe de 6 meses, seus ossos eram visíveis. A família mergulhada em problemas, mãe, pai e tios alcoolizados. Não pude evitar; as lagrimas encheram meus olhos pensando que não era para ser assim, não era a vida que DEUS planejou para toda a humanidade.

Passada meia-hora , dei conta que meu olho não doía mais, o cisco havia saído.

Pensei sobre isso aprendi algumas coisas:

Os ciscos que me incomodam, vão sair quando eu deixar de pensar em mim e olhar para a dor do outro. Quantos pecados e vícios nunca são superados em razão do egoísmo, que não me deixa olhar para a dor do outro.

Como disse Jesus os ciscos devem se tratados pessoalmente, quando pedi ajuda, ninguém “enxergava” o tal cisco, mas eu sentia a dor. Para ajudar alguém com “cisco” eu preciso chegar muito perto, colar no rosto, e mesmo assim não dá pra ver. A trave nos olhos daqueles que se preocupam com os ciscos é a insensibilidade, pois todos os que não vêem o cisco não se preocupam com as dores que ele causa, então antes de ajudar eu preciso de sensibilidade, de solidariedade, sentir a dor do outro.

O que quero tirar dos outros, na verdade, são os defeitos que tenho em mim mesmo e que nos “ciscos” do meu irmão, vejo os reflexos dos meus próprios defeitos. É a história do Pai que brigou com o filho por ele ser muito tímido, mais tarde arrependido foi conversar com o filho e confessou: Na verdade tenho raiva da minha própria timidez, que vejo manifesta em sua vida. O filho respondeu: Pai cuide primeiro de si, depois volte e me ajude!

No filme “Beleza Americana” uma das historias narra a vida de um militar “ultra-radical”, violento e intolerável, que espanca o filho e mantém a esposa em um regime de medo. Ele tem ciúmes da amizade que o filho mantém com o vizinho, julgando que o vizinho seja homossexual. Numa determinada noite o militar durão vai até a casa do vizinho, e lhe dá um beijo na boca e confessa que é homossexual, o vizinho assustado, tenta desfazer o mal entendido e dizendo não ser um homossexual e que ele entendeu tudo errado. Enraivecido pela própria vergonha e hipocrisia e militar mata o vizinho. Na verdade ele matou aquilo que odiava em si mesmo.

Os religiosos que Jesus criticou, e que ainda vivem em nosso meio, às vezes gastam horas criticando pecados que na verdade não conseguem vencer, e que odeiam em si mesmos.

Os “ciscos” dos olhos podem ser pecados, doenças, traumas, relacionamentos falidos, etc. No entanto, o que vai de fato tira-lo de mim é quando me curvo diante do Pai, junto com meu irmão e reconheço com choro que precisamos de ajuda, nesse momento “ciscos” e “traves” caem por terra.